quinta-feira, 12 de maio de 2011

quase só medo

Olhou para a bela casa azulejada e não conteve o suspiro: alguns sentimentos jamais deveriam passar da esperança à realidade. Ainda havia uma dor miserável ali, impura e resistente, capaz de enferrujar as expectativas mais legítimas. O mesmo medo paralisante das outras duas tentativas, impróprias, rasgadas, inacabadas. Mas sempre lhes fora mais conveniente engrossar os escudos e bloquear as fechaduras. Evitar o futuro com corridas estapafúrdias, oferecer as mãos cheia de limo para escapar do coração. Assumir o palhaço trágico, transformando em blague experiências indizíveis, compartilhar a graça para não sufocar de nada, velhos senhores de trevas tão caprichosas. Olhou a bela casa azulejada e não conteve a coragem: tentaria de verdade aquela vez. E se estavam ali, remodelados como em sonhos distantes, é porque precisavam vestir aquelas plumas.

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