sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

hit de dezembro

** Em versão violãozinho, a canção do momento - (sor) risos.

desejo de natal: generosidade

"Sorriu compreensivamente - muito mais do que compreensivamente. Era um desses sorrisos raros que têm em si algo de segurança eterna, um desses sorrisos com que a gente talvez depare quatro ou cinco vezes na vida. Um sorriso que, por um momento, encarava - ou parecia encarar - todo o mundo eterno, e que depois se concentrava na gente com irresistível expressão de parcialidade a nosso favor. Um sorriso que compreendia a gente até o ponto em que a gente queria ser compreendido, que acreditava na gente como a gente gostaria de acreditar, assegurando-nos que tinha da gente exatamente a impressão que a gente, na melhor das hipóteses, esperava causar." *
(Francis Scott Fitzgerald, O Grande Gatsby)

*à mainha, que me sorri assim todos os dias.

quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

metal sem ferrugem

Foi acordada às oito e vinte com o telefonema mais imprevisto daquele quente mês de outubro. "Pequena?". Reconheceu imediatamente a voz rouca, resquício de doses de uísque e cigarros amarfanhados, embora o número na tela não remetesse aos verdes anos. "Você?!?!". Riram, a mesma gargalhada de antes.

Queria alguém para dividir uma história de fracasso retumbante, um fracasso pelo qual torceram e sonharam juntos. Queria alguém, não; queria ela. Carolina não só estava a par do assunto como ainda ofereceu detalhes sórdidos. Sentiu muita vontade de contar para ele assim que ouviu a primeira suspeita, boato ainda, mas estava à espera de qualquer sinal para avançar. Felizmente, o telefonema atropelou seu (raro) cartesianismo. "Estaremos sempre juntos nessa campanha" - conseguiu dizer, feliz com a surpresa. Ele concordou, rindo. Como sempre, só alegria.

Somente os dois sabiam o tanto que precisaram lutar para impedir aquela tragédia. E lutaram, de fato, juntos, como o tanto mais que realizaram, juntos sempre, naqueles tempos já perdidos. Conversaram sobre o ano: doenças e mortes, shows e escândalos de conhecidos, projetos e mudanças, faculdades e viagens, fins e zeros esticados. Usaram os mesmos apelidos. Ela teve vontade de cantar algum verso da época, mas as canções escaparam. Ele quis agradecer, de novo, o empenho em meio à (quase) derrocada. Ela não aceitou: recebera leveza daquelas mãos, um presente definitivo para se transformar na borboleta de agora.

Paulo entregara o pacote sem se dar conta do tamanho da oferenda, espontâneo como todos os legítimos, sem sequer imaginar o tamanho do buraco da namorada. Carolina teve vontade de dizer a verdade, verdade jamais sugerida, mas preferiu desviar do assunto. Se estavam ali, dividindo aquele fracasso tão sonhado, era porque algo muito grandioso permanecia vacinado contra a ferrugem, a despeito do espanto da turma, tão presa em picuinhas, à revelia deles mesmos, às vezes tão prontos para o mal. Jamais se esqueceriam, e tal sentença não cabia em palavras.

Despediram-se sorrindo, a mesma gargalhada de antes.

quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

A dor que ninguém mais sente*

Respirou fundo, contemplando a feiúra desajeitada dos arredores de Paris. Avistou o céu, límpido como naquela manhã tão distante, dentro do táxi lento, e lembrou que dali a poucos dias estaria olhando para cima sob outro ângulo, o temido ângulo das terras do sul. Desceu os olhos até o chão, ainda com alguma esperança, mas logo relacionou também aquela morte à velha vitória do cotidiano caprichoso: os dedos dos pés continuavam rígidos e tesos. E talvez continuassem assim para sempre, tensos como ela própria, perdidos em dramas exclusivos, ao mesmo tempo vítimas e algozes daquela dor inacessível e única. Relaxou-os um a um, triste, em busca de novas crenças para disfarçar o sofrimento; encontrou de volta aquela fé insistente, sempre plena de palavras doces e promessas infalíveis. Afinal, partira do próprio Tom a redentora sugestão: só a grande dor traz liberdade, e quase ninguém recebe esta chance.
(livro de gaveta)

* Publicação é meta 2010.

terça-feira, 15 de dezembro de 2009

Presentes 2009

A gente nunca tinha se cruzado, fato raro na cidade-ervilha. Depois da indicação de uma amiga jornalista, fui contratada para escrever o seu perfil literário, texto principal do recém-criado site de divulgação do trabalho delicado da designer. Virou o freela mais especial do ano, graças à simpatia imediata. Sentimento compartilhado, Laurinha já não é mais (apenas) uma coleção de letrinhas.
Ela agora faz parte do show.

O triunfo do plano B

Encontros com o papel

Laura tomou um susto quando reconheceu o objeto camuflado pelos laçarotes do pacote: uma máquina de costura cor-de-rosa, especialmente pensada para o público infantil, capaz de dar pontos de verdade. Tinha seis anos e se acostumara a acompanhar a rotina da avó costureira, para quem enfiava algumas linhas na agulha e cortava uns tantos retalhos. Fascinada pelo presente, atravessava as tardes entretida com as próprias invenções. Em vez de roupinhas de boneca, porém, perverteu a genética apresentando uma surpreendente coleção de bloquinhos de papel acabados com esmero. Já ali, menina ainda, insinuava-se o embate pela escolha do protagonista da sua rotina: papel ou tecido?

Dez anos depois a batalha parecia concluída: a ligação inexorável com o papel simplificou os dilemas de juventude ao acelerar a escolha pela faculdade de Design Gráfico. Já dentro do curso, aproveitou ao máximo cada lição: colecionou papéis, matriculou-se em cursos extraordinários, estagiou numa editora e oficina tipográfica, alcançou as notas máximas. O trabalho de conclusão de curso não deixou dúvida da dedicação: na área da semântica dos produtos, pensou uma produção gráfica com potencial para acompanhar a significação do conteúdo do livro.

Mas Laura nunca conseguiu se encontrar de fato no design. Influenciada pelo vazio daquela realização pela metade, começou a agrupar planos alternativos, caso tudo desse errado. Antes mesmo de se formar era importante enumerar saídas, válvulas de escape, projetos alheios àquela realidade que já lhe parecia um tanto gasta. Na época do trabalho de conclusão de curso, angustiada com a proximidade da formatura, e as angústias trazidas com o fim da faculdade, decidiu que lhe faltava um trabalho manual. Andava cerebral demais.

O chamado das agulhas

Uma amiga reavivou sua antiga inclinação à costura, comentando sobre um curso simples e prático, daqueles repletos de donas de casa ávidas pela técnica perfeita para pregar botões e fazer bainhas. Criou então uma nova rotina: todas as quartas-feiras desembarcava na classe, onde passava aproximadamente cinco horas costurando tudo o que tinha vontade. Na primeira aula, já tentou levar para casa seu primeiro produto, um porta-moeda. O resultado não foi dos melhores, mas já começava a tomar gosto pelo processo. Logo em seguida, fez uma bolsa de mão, pequenina e modesta. Fechou o curso com uma boina, tornada pop pela professora, que passou o molde para todos os alunos que apareceram depois de Laura.

Tirou o pó da máquina de costura da mãe e seguiu com as lições. Já encontrara até um rascunho de estilo: entendia-se melhor na costura de acessórios, e não de roupas; apresentava facilidade para moldes, conseqüência da dedicação às aulas de geometria descritiva; e criava com a mão no material, sem qualquer tipo de desenho. Construiu, então, sua primeira echarpe, enriquecendo o produto com a aplicação de dois tecidos, um sobre o outro – uma inovação no universo das echarpes. Sem nenhuma pretensão, começou a vender entre amigos e familiares, anotando os pedidos com gosto e lutando para fixar os preços – até hoje vender é um verbo que prefere não conjugar. Tudo parecia caminhar; ela só não se lembrava ainda da máquina cor-de-rosa.

Uma vitória imprevista

Quando a formatura chegou, as coisas já pareciam bastante distintas do marco zero, cinco anos antes, quando optara pelo mundo do desenho. A vitória do papel sobre o tecido já não lhe parecia legítima. As horas sobre a máquina de costura desconstruíram o conceito de hobby para remexer de modo irremediável em sua rotina – logo com ela, que adora a possibilidade de tomar café da manhã sempre no mesmo horário e acredita que uma das rimas mais preciosas é “felicidade” com “tranqüilidade”. Cada vez mais certa da invalidade do futuro sacramentado na academia, abandonou a cidade mais uma vez e partiu em busca da sua verdade, aquela que não cabe em diplomas.

Na capital paulista, passou quase um ano estudando moda. O plano B, título antes oferecido aos retalhos e as horas sobre a máquina, já se transformara em projeto de vida, com toda a importância do principal. A mudança ocorreu de forma tão espontânea que hoje é difícil definir o ponto da virada. Simplesmente não havia outro caminho. E se queria se tornar profissional, pensava, teria de aprender sobre moda, um território bastante distante da sua experiência até ali. Graças às disciplinas cursadas, entrosou-se com os estilistas mais criativos do país, além de receber noções fundamentais de lógica de mercado, estruturação de coleções, calendários próprios do circuito.

De volta a Florianópolis, procurou um apartamento onde pudesse dar partida e começar de fato. Ajeitou os retalhos numa sala iluminada, agrupou botões e zíperes por cor, construindo um cenário delicado como sua própria criação. Na pequena sala-ateliê, passa boa parte do dia, recusando o imperativo do cartão-ponto, trabalhando quando tudo flui, e buscando referências quando algo inexplicável parece empacar o processo.

O estilo consolidado

A nova rotina, de design de acessórios agora, também já guarda alguns segredos. Como buscou a costura como um trabalho manual, continua abolindo os croquis. Cria com as mãos, sem qualquer interferência, e tendo em vista o material que encontra. Para facilitar, mantém toda a matéria-prima numa arrumação milimétrica: botões, tecidos brilhosos, algodão, zíper, joaninhas, passamanaria, fitas, miçangas, cetins. Quando começa a trabalhar, olha para os lados, bate o olho em tal ou qual coisa, decide-se. Senta e começa a construir, como se ainda estivesse lidando com geometria espacial na faculdade.

Outra peculiaridade do seu estilo é o aproveitamento total de qualquer tecido sobrado do corte. Laura odeia obras, e se empenha em dar vida aos retalhos. Nas suas mãos, qualquer pedacinho de tecido constrói um novo produto, e assim muitas peças derivam dos produtos maiores, construindo uma lógica bastante especial. Com naturalidade, fluindo, como deve ser tudo na vida, uma de suas verdades mais repetidas. Sempre de acordo com o material e o desejo, num processo intransferível e legítimo. Intransferível porque é apenas de Laura, com sua mania de só decidir depois de muito observar, processando com calma antes de interferir, seja na vida ou na arte. Legítimo porque nasce lá dentro, brotando com espontaneidade, sem qualquer intervenção de vagas disciplinas de planejamento.

É com esta naturalidade que ela cozinha, um dos hobbies favoritos: abre o armário, seleciona os ingredientes e cria os pratos, de improviso. E é assim que organiza seu espaço também, seja as roupas do armário, seja a gaveta destinada à coleção de papéis, firme e forte na rotina da designer. A diferença é que a tipografia agora é mais um dos seus hobbies, junto às canções de rock contemporâneo, às organizações de gavetas, às coleções de fotos, às viagens realizadas. Se a tipografia é mais um hobby, costurar já é a profissão.

Basta olhar a pequenina máquina de costura cor-de-rosa numa estante logo acima da sua mesa de trabalho. Ela agora está em todos os lugares, presente, perene, permanente.

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

tim tim*

afirma um princípio zen que a gente encontra o caminho correto quando desaparecem os obstáculos. embora longe, mas muito longe mesmo, de direcionar minha experiência a partir de referências budistas, confesso certa simpatia pela idéia do espontâneo, do natural, do livre. da mesma forma, abomino algumas pérolas do pensa/sofri/mento judaico-cristão, sobretudo a clássica: só tem valor quando é bem difícil. mesmo marcado por agressões e imprevistos, e surpresas sempre me pareceram muito mais assustadoras do que socos e pontapés, 2009 curiosamente me ensinou o sentido da palavra fluidez:


:: nada como, após seis anos de distância geográfica, encontrar a mesma cumplicidade para as bobices deliciosas, as rabugices necessárias, a irmandade irrestrita.

:: nada como perceber que algumas pessoas e cenas e experiências, ainda que raras, permanecem com o mesmo viço, à revelia da ferrugem do tempo.

:: nada como mudar radicalmente de profissão e ver que ali tudo caminha sem amarras, para frente, com comprometimento e prazer.

:: nada como duas ou três aproximações instantâneas e inadiáveis - "como isso não existia antes?"

:: nada como reencontrar alguéns do passado, que ressurgem com o frescor do presente, sobretudo quando ainda somos capazes de compartilhar nortes e sensações.

:: nada como conhecer pessoas novas e perceber que elas sempre estiveram ali, amigas, irmãs, amigas-irmãs, ainda que não fisicamente.

:: nada como adotar um bichinho para reconhecer que alegria é fácil e contamina.

:: nada como perceber, sapatilhas de ponta nos pés, que certas coisas a gente não esquece, mesmo que se valha das borrachas mais potentes.

:: nada como joelhos sem dor.

:: a vida nunca deixa de oferecer presentes.


* às novidades do verão (movimento é felicidade).

** um dezembro de flores pra todo o mundo. que seja doce, que seja doce, que seja doce, que seja doce, que seja doce, que seja doce, que seja doce.

*** Mano, Diego, Bebel, Maninha, Wolff, Laura, Claudia, Marco, Camila, Dudu, Eve, Fernanda, Raquel, Cristiane, mainha, painho, meus avós: vocês fizeram muito por mim até aqui. obrigada sempre.

quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

a lição de pandora

tentou listar a coleção de males na madrugada anterior: desastres permanentes, delírios imperdoáveis, pressões impraticáveis, miseráveis opções. a dor da (possível) negativa seria sempre mais forte. caminhava sobre espinhos, com as mãos cheias de pedras. desfiava o novelo do destino, morto de medo dos abismos. fins sem finalidade, escudos sem flechas: o infortúnio citado pelo médico do romance americano. "o que diria, depois dos erros todos?". como reagem os exagerados diante dos freios necessários? inacreditável o tamanho do mundo após aquele imprevisto: resto, caco, quase nada. vivia algo impossível no seco, exigente de segredos e promessas, imperativo em falhas e dores, quase insuportável de tão demolidor. já não conseguia cantar. nem escrever. mal podia encarar os outros todos. era impossível sair de si. o engasgo, porém, ainda permitia uma sentença: "acredito, acreditamos". mesmo que tudo pareça maculado, manchado, desbotado. à revelia do rosário de tristezas. ou, na versão dela, rezada entre sussurros e lágrimas já secas: "continuamos, seguimos, vivemos". com a benção da coragem. se intensidade é combustível de gigantes, esperança é a virtude de quem ama com vontade. aprenderam.

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

uma manhã despenteada

Lição para pentear pensamentos matinais
(Caio Fernando Abreu)

Pensamentos, como cabelos, também acordam despenteados. Naquela faixa-zumbi que vai em slow motion, desde sair da cama, abrir as janelas, avaliar o tempo e calçar os chinelos até o primeiro jato da torneira – feito fios fora de lugar emaranhando-se, encrespam-se, tomam direções inesperadas.Com água, mão, pente, você disciplina cabelos. E pensamentos? Que nem são exatamente pensamentos, mas memórias, farrapos de sonho, um rosto, premonições, fantasias, um nome. E às vezes também não há água, mão, pente, gel ou xampu capazes de domá-los. Acumulando-se cotidianas, as brutalidades nossas de cada dia fazem pouco a pouco alguns recuar – acuados, rejeitados – para as remotas regiões de onde chegaram. Outros como cabelos rebeldes, renegam-se a voltar ao lugar que (com que direito?) determinamos para eles. Feito certas crianças, não se deixam engabelar assim por doce nem figurinha.

Pensamentos matinais, desgrenhados, são frágeis como cabelos finos demais que começam a cair. Você passa a mão, e ele já não está mais ali – o fio. No travesseiro sempre restam alguns, melhor não olhar para trás: vira-se estátua de cinza. Compacta, mas cinza. Basta um sopro. Pensamentos matinais, cuidado, são alterados feito um organismo mudando de fuso horário. Não deveria estar ali naquela hora, mas está. Não deveria sentir fome às três da tarde, mas sente. Não deveria sentir sono ao meio-dia, mas. Pensamentos matinais são um abrupto mas com ponto final a seguir. Perigosíssimos. A tal ponto que há risco de não continuar depois do que deveria ser uma curva amena, mas tornou-se abismo.

E só vamos em frente porque começam a acontecer urgências. Enquanto a manhã dispara e o telefone toca e a campainha soa e as crianças vão precisam sair para a escola e o relógio de ponto ou qualquer coisa assim – incluindo os outros, sobretudo os outros – não esperam. Nada espera, ninguém. Você lava o rosto, finge não ter visto coisa alguma. É possível também ligar o rádio. Um banho frio, o café feito uma bofetada. Há pensamentos-matinais-despenteados que põe o rabo entre as pernas e dão o fora, mas outros – mulheres de Nelson Rodrigues – adoram apanhar.

Quanto mais você bate, mais ele arreganha os dentes e intica para apanhar mais. Isso magnetiza e atrai outros pensamentos, ainda mais descabelados e até então escondidos. Se era um nome, vem um sobrenome. Se era um rosto, vem a textura da pele, um cheiro um jeito de olhar. Se fantasia, ganha cor, e assim por diante. Pensamentos desse tipo são quase sempre proustianos: loucos pelo velho e bom tempo perdido.

Soluções mais grosseiras, há. Como papel higiênico, amarrotá-los, jogá-los na privada, dar descarga. Acontece que descargas, não quero parecer alarmista, às vezes entopem. E devolvem justamente aquilo que deveriam levar embora, num comportamento que é o avesso daquele para qual foram programadas. Ah, o avesso, esse é o problema. Pensamentos assim são um sintoma do avesso. E o avesso é a superfície correspondente, igual em tamanho e forma, a tudo aquilo que você considera o direito. Conhecer de cor-e-salteado o direito absolutamente não dá direito a conhecer também o outro lado. Sinto muito, mas ele sempre está lá. Incógnito, invisível, inviável. In, enfim.

Por ser assim, desordena-se. Pelas manhãs, mesmo que o de-manhã de alguns aconteça às seis da tarde. Mesmo nos calvos, a cabeleira abstrata pode amanhecer tão eriçada quanto a da Medusa. E se em vez de veneno as cobras tiverem mel? Tudo depende não me pergunte de quê. Só sei que deve-se olhar direito nos olhos deles, tocar sem nojo nem medo suas mãos cobertas de musgo, teias de aranha. Passar num susto a mão pelos cabelos, reais ou não. Deve-se sempre com a doçura e paciência possíveis nessas situações, mudar rápido de assunto. Ou cair no poço.

terça-feira, 8 de dezembro de 2009

livre da cortisona

atendendo a pedidos: minha pequena Lina, em pose de garota.

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

literatura do fim de semana

Don't Wait Too Long
(Madeleine Peyroux)

You can cry a million tears
You can wait a million years
If you think that time will change your ways
Don't wait too long

When your morning turns to night
Who'll be loving you by candlelight
If you think that time will change your ways
Don't wait too long

Maybe I got a lot to learn
Time can slip away
Sometimes you got to lose it all
Before you find your way

Take a chance, play your part
Make romance, it might brake your heart
But if you think that time will change your ways
Don't wait too long

It may rain, it may shine
Love will age like fine red wine
But if you think that time will change your ways
Don't wait too long

Maybe you and I got a lot to learn
Don't waste another day
Maybe you got to lose it all
Before you find your way

Take a chance, play your part
Make romance, it might brake your heart
But if you think that time will change your ways
Don't wait too long
Don't wait
Hmm... Don't wait Hmm...

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

facilidades (im) possíveis

Pés esticados no meio-fio, buscou equilíbrio com os braços finos. Sandália de salto nas mãos, memória recente em giros velozes: “Amada”. Daquela vez, dispensara as árvores da praça sem flores. Embora o luto ainda enchesse a alma de furos, a madrugada oferecia algo além de taças, encantos, promessas e sorrisos. Felicidade é seguir adiante – sussurraram, tantos, horas antes. Em apenas dez minutos se convenceu da sugestão. Palavras fluidas, conversas esticadas, nada de falar dos outros, nem do passado. Alívio, oportunidade: silenciar sobre o principal era desejo antigo. Olhos pregados no presente, ignorando qualquer horizonte – primeira vez? De posse da borracha mágica, esqueceu, abandonou. Benditos os que têm a chance de reescrever os enredos mais doídos. Descobriu: a verdadeira rima ocorre entre dureza e liberdade. Encontrou flores ali, surpreendentes, enfeitando palavras e arredores. Olharam-se, estranhos à facilidade aconchegante. Seria assim a vida dos outros? Riram, a primeira de muitas. Havia cada vez mais sol no céu sem nuvens.

* Amém.