quarta-feira, 11 de maio de 2011

c'est interdit penser à autre chose

Lado a lado, e com as taças já pela metade, tentaram retomar assuntos abandonados na noite anterior. Tom estava seguro, sem dúvida, mas em nenhum momento recorreu à violência enrustida com que conduzia com destreza as conversas de juventude. Mesmo mais suavizado, colorido agora nas tintas do sépia, constrangia com o oferecimento daquele vasto cardápio de confiança, exatamente como ela o violentara no último jantar, pela tranqüilidade com que atravessara cada dúvida no sofisticado restaurante. Nina, como ela própria já imaginava, não conseguia mais atordoá-lo com assertivas, muito menos extorquir as palavras certas com pulso firme e decidido; a noite passada fora demasiadamente promissora para que brincasse de exercitar valentias. Era como se tudo tivesse adquirido certa gravidade, mais uma carga de definitivo, e não gostaria de autorizar qualquer borrão às linhas daquela reescrita. Era difícil para ambos aceitar tamanha entrega, um diante do outro, driblando dores e humilhações, camuflando em palavras bem escolhidas tudo o que não conseguiam iluminar, brincando de voltar ao passado quando desejavam apenas revolver o futuro. Imaginavam-se, no entanto, cúmplices também naquilo, e isso tornava o sofrimento um pouco mais leve.

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