quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

facilidades (im) possíveis

Pés esticados no meio-fio, buscou equilíbrio com os braços finos. Sandália de salto nas mãos, memória recente em giros velozes: “Amada”. Daquela vez, dispensara as árvores da praça sem flores. Embora o luto ainda enchesse a alma de furos, a madrugada oferecia algo além de taças, encantos, promessas e sorrisos. Felicidade é seguir adiante – sussurraram, tantos, horas antes. Em apenas dez minutos se convenceu da sugestão. Palavras fluidas, conversas esticadas, nada de falar dos outros, nem do passado. Alívio, oportunidade: silenciar sobre o principal era desejo antigo. Olhos pregados no presente, ignorando qualquer horizonte – primeira vez? De posse da borracha mágica, esqueceu, abandonou. Benditos os que têm a chance de reescrever os enredos mais doídos. Descobriu: a verdadeira rima ocorre entre dureza e liberdade. Encontrou flores ali, surpreendentes, enfeitando palavras e arredores. Olharam-se, estranhos à facilidade aconchegante. Seria assim a vida dos outros? Riram, a primeira de muitas. Havia cada vez mais sol no céu sem nuvens.

* Amém.

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