sexta-feira, 16 de outubro de 2009

like a flower, waiting to bloom...

"Virou-se então para a direita, em busca das vozes que soavam um pouco mais distantes do que quando atravessara deslumbrada o charmoso galpão. Bateu o rosto num emaranhado de samambaias que desciam do teto, presas por fios de nylon quase imperceptíveis, e teve a impressão de ouvir lamentos de despedida. Dobrando de novo à direta, e agora já quase no terraço que se abria para a rua, de lado para o mar, encontrou um grupo de oito ou nove pessoas bajulando-se num tilintar alegre de taças, envoltas em perfumes doces e vestidos suaves, trocando sutis palavras de agradecimento, preparadas para se servirem em bando de mais bebida, e logo retornarem. Espiou entre as plantas, avistou o grupo partindo e deteve o olhar sobre aquele que restou, ele, o garoto, quase o motivo para aquela noite, Tom, como poderia ter esquecido? Sem notar que estava sendo observado, ele saltou imediatamente para o parapeito do terraço, equilibrou-se com apenas uma mão, na outra segurava uma taça de champanhe, e espichou-se inteiro, recebendo de braços abertos a fresca brisa do início da madrugada. Os pés, enormes, ocupavam quase toda a extensão do parapeito, numa estreiteza de medidas que acentuava ainda mais a impressão de que tombaria a qualquer instante. Bastou um olhar demorado, porém, para logo reconhecer a velha administração competente dos riscos, peito aberto, queixo firme apontado para a frente, corpo grande e largo em total equilibrio, como o leme de um barco que jamais afundaria, seguro como só ele conseguia ser e parecer, sobretudo parecer. Estava mais gordo, ela reparou, embora tenha sido uma criança quase sempre acima do peso, por mais que corresse com a amiga pela praia até precisar se jogar na areia para acalmar os saltos do coração. Estava mais bonito também, como se os anos tivessem lhe arrancado as bochechas e os olhos infantis, como se a vida tivesse lhe presentado com um traçado mais fino, ângulos quase agudos agora, talvez até um olhar mais grave. Quando levantou uma perna, cambaleando em busca de um novo ponto de equílibrio, só pelo prazer de sentir aquele aperto no estômago, apenas para se sentir corajoso como nenhum outro, em guerra, sempre, quando brincou e se mexeu e pulou e quase saltou dali do alto, fingindo estar num murinho baixo de garagem, Nina percebeu que era o mesmo Tom, sim, não restava dúvidas."

(by myself)

Um comentário:

  1. Olá, Jade.

    Adoro quando escreves literatura. Seus textos são como uma sensação, uma experiência. Tens muito talento, muita sensibilidade. Sabes fazer poesia em prosa, combinando as palavras como numa melodia de sentidos. Eu sei, parece piegas, mas é o que sinto.
    Esses trechos têm começo e fim, ou são assim mesmo, perdidos, como plumas ao vento? Desculpe, piegas novamente. Mas realmente tenho curiosidade de ler uma história inteira, apesar de assim perdidas já serem lindas.
    bj de uma desconhecida.

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