quarta-feira, 14 de outubro de 2009

letrinhas (por ora) engavetadas

"Talvez quando encontrasse um zero de onde recomeçar conseguisse enumerar com mais desenvoltura as coisas todas que continuavam à sua espera. Haveria de fazer planos também, afinal sempre os fizera, e talvez até algumas resoluções já estivessem tomando forma, ainda que timidamente: voltaria para o Rio de Janeiro, era lá o seu lugar; organizaria visitas mensais ao sul, onde já reencontrara aconchegos preciosos como um novo horizonte; retomaria a rotina das hípicas, reavendo ao menos aquele talento; escreveria sobre tudo aquilo, e escreveria sempre, o que quer que estivesse fazendo a cabeça falhar. Uma névoa, no entanto, quase lhe arrancava as certezas uma a uma: permanecia sem destino para a inquietação que crescia em velocidade constrangedora desde que vislumbrara de novo a pequena rua sem saída. Só sabia que era algo incontrolável, e que preenchia com fúria todos os outros planos, inadiável, imprescindível, a única sugestão capaz de dotar de alguma tranquilidade os anos futuros".

(meu livro de gaveta)

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