sexta-feira, 3 de junho de 2011

a vitória do oxigênio

Tom compreendeu cada uma das palavras escorregadias, assim como aceitou com tranqüilidade as lágrimas presas em esconderijos pela casa. Alguns muitos tempos atrás, Nina o enxergara da profundidade à superfície e mesmo assim decidira permanecer; aquela era a hora, então, de retribuir a delicadeza com que ela tratara todos os dramas e ensaios até a súbita explosão da gota d'água, justamente onde as névoas se concentravam. Quando as lágrimas se tornaram maiores e mais volumosas, exibidas num excesso na cama, resistentes a soluços e fungadas, levantou a namorada com carinho e olhou-a com toda calma do mundo. Nunca a vira chorar, disse. Nunca a vira chorar embora tanto já tivesse visto na vida, e tantas coisas que motivariam o choro até mesmo dos mais nobres, mais capazes, mais corajosos, continuou. Os raros - sussurrou. Era verdade, ela pensou; diante do choque das lágrimas inéditas daquele jantar de quase noivado, ignorou sua própria incapacidade diante dele. Era saudade do pai, mentiu, lamentando em seguida: continuava se sentindo incapaz de dizer a verdade. Já começava a delimitar, no entanto, os contornos daquele fato imprevisto, desprezado por ambos em suas ansiedades: eles não eram mais os mesmos. E talvez algo ali já fosse irrecuperável.


(velhas letrinhas blá blá blá...)

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