quarta-feira, 2 de março de 2011

orações de mississipi

De tantos em tantos dias, após um pedido da srta. Jenny, ela vinha, sentava-se ao lado da cama e lia para ele. Ele não dava a menor importância aos livros; e era quase certo que jamais lera algo por iniciativa própria, mas ali ficava imóvel em seu gesso enquanto a grave voz de contralto dela erguia-se incessante no quarto silencioso. Às vezes ele tentava conversar, mas ela ignorava esses avanços e continuava a ler; se ele persistia, ela simplesmente se virava e o deixava. Por isso logo ele aprendeu a dissimular, em geral com os olhos fechados, percorrendo sozinho as regiões sombrias e estéreis de seu desespero, enquanto a voz dela deslizava sem parar acima dos ruídos mais distantes que chegavam até eles - a srta. Jenny repreendendo Isom ou Simon no térreo ou no jardim, o pipilar dos passarinhos na árvore perto da janela, o incessante gemido da bomba d'água além do estábulo. Por vezes ela parava de ler e o contemplava e descobria que ele estava dormindo tranquilamente.

(Sartoris, William Faulkner)

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