terça-feira, 26 de janeiro de 2010

Um brinde (sem álcool)

Bastaria um telefonema à meia-noite, seguido da frase engasgada: "obrigada por tudo, por ser, por existir". Mas Lola não conseguiu. Sabia que iria muito além.

"Me ensina os passos lentos. Me ajuda a respirar. Como você alcança essa frequência? De onde sai tanto silêncio?"

Deitou, pensou, escreveu o sms de feliz aniversário. "Amo" - apenas as três letras mágicas, reunidas na ordem ideal. Charlie era seu irmão, uma fatia dela, ácida, e aquilo era tão grandioso que impedia o milagre da frase correta. E logo com ela, tão cheia de letrinhas. Buscou coragem para escrever:

"Não sei como seria sem você. Não sei quem eu seria".

Não escreveu nada.
"Amo" - apenas.
Desde sempre, pensou.

2 comentários:

  1. Ele, como de praxe, não respondeu à mensagem. Mas se tivesse feito, teria escrito algo como "idem", somente. Mais do que isso seria esforço e sinceridade demais, e ele - como ela bem sabe - não tem paciência pra verdades de boa índole.

    ResponderExcluir
  2. Ela, como de praxe, responderia o "idem" com um descarrego de notas dissonantes. Daqueles de zonzear até Charlie. Brigariam, sem dúvida.

    ResponderExcluir