Bastaria um telefonema à meia-noite, seguido da frase engasgada: "obrigada por tudo, por ser, por existir". Mas Lola não conseguiu. Sabia que iria muito além.
"Me ensina os passos lentos. Me ajuda a respirar. Como você alcança essa frequência? De onde sai tanto silêncio?"
Deitou, pensou, escreveu o sms de feliz aniversário. "Amo" - apenas as três letras mágicas, reunidas na ordem ideal. Charlie era seu irmão, uma fatia dela, ácida, e aquilo era tão grandioso que impedia o milagre da frase correta. E logo com ela, tão cheia de letrinhas. Buscou coragem para escrever:
"Não sei como seria sem você. Não sei quem eu seria".
Não escreveu nada.
"Amo" - apenas.
Desde sempre, pensou.
Ele, como de praxe, não respondeu à mensagem. Mas se tivesse feito, teria escrito algo como "idem", somente. Mais do que isso seria esforço e sinceridade demais, e ele - como ela bem sabe - não tem paciência pra verdades de boa índole.
ResponderExcluirEla, como de praxe, responderia o "idem" com um descarrego de notas dissonantes. Daqueles de zonzear até Charlie. Brigariam, sem dúvida.
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