terça-feira, 19 de janeiro de 2010

drops

:: A única imagem assimilada por Valentina naquela manhã de abril foi o desbotado do céu: não havia contornos, nem sustos, nem margens. Apenas uma tristeza mansa que encobria seu olhar com um véu de saudade e melancolia.

:: As pessoas suportam cotas diferentes de felicidade e dor. Existe uma zona de conforto, e ela é diferente para cada um. Acreditar que excesso de felicidade constrói mais felicidade é uma falácia. Ingenuidade, na melhor das hipóteses. Se excesso de tristeza é depressão, felicidade em demasia é desespero.

:: Até conhecer Lívia eu era um homem de beiradas. Jamais ultrapassava a fronteira, jamais permiti que qualquer coisa ou pessoa se tornasse fundamental. Eis o ponto: até ser apresentado ao seu andar felino, insuportável de tão perfeito, eu não conhecia a necessidade.

:: - O que você faz aqui? - Valentina perguntou, sem esconder o estranhamento.
- Eu espero.
Algo se adensa no silêncio.
- Espera o quê?
Depois do suspiro, uma confissão:
- Me espero.

(livro de gaveta)

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