domingo, 5 de abril de 2009

Nelson Rodrigues, o retorno.

Este mês completa um ano da minha defesa de doutorado no curso de Teoria Literária. Dito de outra forma, faz 365 dias que me RECUSO a destrinchar qualquer texto de Nelson Rodrigues, o jornalista, dramaturgo, ficcionista e polemista que me acompanhou de 2003 a 2008, lido, relido e trelido durante toda a minha aventura acadêmica. Antes disso, já tinha protagonizado também o meu TCC, no Jornalismo da UFSC, um site de 500 páginas humildemente chamado Tudo sobre Nelson Rodrigues, e supervisionado pelo meu querido Clóvis Geyer. Só agora, depois de depositar o intempestivo trabalho de 500 páginas (também) nas prateleiras acadêmicas necessárias é que resolvi voltar a falar no assunto. Para comemorar o fim do período sabático, levei para a cabeceira A menina sem estrela, crônicas autobiográficas do autor, compilação dos seus melhores textos - na minha modesta (e obstinada) opinião. Como muita gente me pergunta o objetivo da pesquisa, como se eu mesma fosse capaz de defini-lo, encaminho agora o texto de apresentação à banca, em 24 de abril de 2008. Já aviso de antemão que não há nada de jornalismo no projeto: Nelson Rodrigues e sua cena - dramaturgia da dupla tensão, cinema da síntese é uma pesquisa teórica embasada em análises estéticas do teatro do autor, e suas posteriores adaptações para o cinema. Ainda assim, como todo bom jornalista adora Nelson Rodrigues, e só tenho amigos bons jornalistas, achei que talvez pudesse interessar. O texto inteiro da apresentação segue em pdf., lá embaixo.

OBS: Um dos capítulos, acabei de saber, será publicado em breve, no livro Para uma história cultural do teatro, organizado pelo crítico Edélcio Mostaço, professor de poética e dramaturgia na Udesc.

Afinal, onde está Nelson Rodrigues?

Provavelmente todos nesta sala já ouviram falar de Nelson Rodrigues. Contista, jornalista, cronista, romancista, dramaturgo e polemista, Nelson Rodrigues vem protagonizando parcela significativa da história brasileira desde a década de 40. A primeira impressão é ululante: somos todos seus íntimos. Permanecem até hoje suas frases cortantes, seu desprezo à esquerda, seu pioneirismo em Vestido de Noiva, sua coluna A vida como ela é..., suas máximas repetidas à exaustão: “a massa só serve para parir o gênio; depois que o pari, volta a babar na gravata”. Permanecem, sobretudo, suas adaptações, versões audiovisuais capazes de render uma nova película a cada ano. Provavelmente também todos nesta sala foram apresentados à sua obra através das telas de cinema, produtor de mais de vinte versões, ou das adaptações da TV Globo, com as séries A vida como ela é... e Engraçadinha. Diante deste quadro, a questão é: até que ponto as versões audiovisuais nos ajudaram a conhecer de fato Nelson Rodrigues?

Um dos maiores intérpretes do Brasil, sobretudo em suas tensões e seus desvios, Nelson Rodrigues parece ter dedicado seu olhar mais apurado à elaboração de seu teatro. Composto de 17 peças, iniciou em 1941, com A mulher sem pecado, e foi concluído em 80, com A serpente. Não houve tempo para seu projeto maior: uma autobiografia em nove atos. Concomitantemente às suas outras incursões ficcionais, e até mesmo jornalísticas, já que cobria editorias de polícia e esporte, as peças iam sendo criadas, lançadas, censuradas, amadas, discutidas, xingadas, mitificadas. Sempre polêmicas, como o autor. A dramaturgia de Nelson Rodrigues, porém, atualmente é pouco conhecida fora do círculo acadêmico – ao contrário do que acontece com suas crônicas do cotidiano, seu contos concisos, suas frases bombásticas, suas personagens já cristalizadas no imaginário nacional. Seu teatro costuma alcançar o público sobretudo através das típicas formas de arte do contemporâneo: o cinema e a televisão. E conhecer o dramaturgo Nelson Rodrigues através das versões cinematográficas de seu teatro, já podemos afirmar, quase sempre nos distancia ainda mais de sua poética.

Nelson Rodrigues e sua cena: dramaturgia da dupla tensão, cinema da síntese parte da tentativa de explicar um fracasso, o fracasso do cinema. Por que o cinema baseado em seu teatro quase nunca consegue dialogar de maneira efetiva com a autoria rodrigueana? Por que quanto mais se lê o seu teatro mais se descobre problemas estéticos e reduções simplistas nas adaptações? Por que quanto mais se conhece as suas peças menos se espera um novo lançamento? As respostas parecem explicar também as pechas, muitas contraditórias, tantas vezes incutidas em Nelson Rodrigues: tarado, pervertido, reacionário, moralista, imoral. Esta tese de doutorado, após pesquisa de cinco anos, iniciada ainda no mestrado, arrisca apontar algumas razões para o fracasso das adaptações cinematográficas, bem como busca explicar a cristalização de rótulos pouco esclarecedores das potências de sua autoria. Para explicar o fracasso do cinema, porém, partimos da tentativa de definir um sucesso, o sucesso do teatro rodrigueano.

Embora quase nunca realizada no cinema brasileiro, a autoria dramatúrgica de Nelson Rodrigues ultrapassa conceitos ao se pautar na renovação, insinuando posições demarcadas num para-além dos gêneros, do tempo e da própria história. No universo desta pesquisa, sua relevância histórica é pensada em relação à modernidade poética que implantou de modo pioneiro na dramaturgia brasileira, bem como à completude do processo de formação do teatro nacional. Nelson Rodrigues foi, e isto já parece consenso, o grande modernista do palco brasileiro. Após a análise das dezessete peças, a unidade do teatro do autor pôde ser definida aqui como a marca de uma dupla tensão, responsável por sua tensão estética e sua tensão temática. O movimento de dupla tensão, centro de seu teatro, parece fazer da ambigüidade e do acúmulo o seu norte.

Mais, aqui.

Um comentário:

  1. oi td bem? meu nome é Antonio e estou dissertando sobre nelson rodrigues a minha única duvida é qual fase literaria pertencem os textos de A vida como ela é. por favor se puder me responder serei grato. Antonio Unesp Marilia Biblioteconomia e mail antony.100@bol.com.br

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