sexta-feira, 10 de abril de 2009

Sobre limites e limiares

Durante toda minha pós-graduação, tomei contato com uma infinidade de teóricos, pesquisadores e pensadores que conhecia apenas de orelhada. Me encantei com filosofia, virei leitora obsessiva de Nietzsche, decidi me biografar como Roland Barthes, reli quase todo o Freud. Uma das minhas maiores surpresas, porém, aconteceu com as leituras de George Bataille, pensador francês ainda inédito na minha experiência, especializado em temas espinhosos: limites, paixão, intensidade, violência. Sua obra O Erotismo foi como um conselho cúmplice sussurrado ao ouvido: diz muito sobre mim, sobre os meus, sobre o mundo. Abaixo, trechinho.


Não temos sempre a força necessária para desejá-lo, nossos recursos esgotam-se, e às vezes o desejo é impotente. Se o perigo se torna muito pesado, se a morte é inevitável, em princípio o desejo é inibido. Mas se tivermos sorte, o objeto que tanto desejamos é mais suscetível de levar-nos a gastos desenfreados e arriscar-nos. Os diversos indivíduos suportam desigualmente grandes perdas de energia ou de dinheiro - ou graves ameaças de morte. Na medida em que podem fazê-lo (é uma questão quantitativa de força), os homens procuram as maiores perdas e os maiores perigos. É mais fácil acreditar no contrário, porque eles com freqüência têm pouca força. Quando conseguem tê-la, querem logo gastá-la e expor-se ao perigo. Aquele que tem a força e os meios se lança em gastos contínuos e expõe-se incessantemente ao perigo.

(do livro O erotismo, de George Bataille, esgotado)

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