segunda-feira, 4 de outubro de 2010

sem poeira pelos cantos.

Usar cores fortes. Voltar a mim mesma. Escutar mais hip hop. Esquecer, perdoar, abandonar. Cortar o cabelo nos ombros. Comprar o primeiro batom. Aceitar a vida acadêmica. Retornar a Freud e Foucault. Reformar, cortinas e sonhos. Caminhar, mesmo sem saber para onde. Aceitar, recolher, transformar. Agradecê-los, mainha e painho. Voltar: à literatura, à vida. Renovar.


"Nos minutos seguintes de silêncio, cúmplices da mentira maior, aproveitou para reviver a tristeza insuportável daqueles dias chuvosos anteriores à partida para as novas terras. O pai, seu melhor amigo, de fato, enfim morrera da doença misteriosa que não compunha o repertório dos médicos. O namorado, a quem sempre se referia no diminutivo, já não a satisfazia em nenhum aspecto, sequer servia para apagar as lembranças da fresca madrugada. Havia ainda Beto, e desde que batera os olhos naquele músico tão carioca, em espírito e sotaque, deduziu a oportunidade de encontrar ali, e talvez apenas ali, uma redenção possível. Ao mesmo tempo, pensava todos os dias no doutorado quase abandonado, oportunidade exclusiva daquele momento, dando-se conta, cotidianamente, da vida pouco satisfatória, entre uma e outra aula particular, desperdiçando as horas como revisora de uma pequena editora local. Havia ainda todos aqueles princípios, fantasmas diante do precipício, insistentes em provocações típicas de tempos heróicos: ainda havia escolha, ainda havia chance, ainda era possível reescrever tudo de novo desde a dedicatória".

(velhas letrinhas caminhando para publicação)

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