segunda-feira, 30 de novembro de 2009
viver é uma festa....
(O Grande Gatsby, Scott Fitzgerald)
PS: Se fosse vivo, Fitzgerald só dançaria Madonna!
PPS: Dezembro chegando, florido e calorento, com uma penca de (felizes) novidades: Let's celebrate!
sexta-feira, 27 de novembro de 2009
meditação

Quem acreditou / No amor, no sorriso, na flor / Então sonhou, sonhou... / E perdeu a paz / O amor, o sorriso e a flor / Se transformam depressa demais / Quem, no coração / Abrigou a tristeza de ver tudo isto se perder / E, na solidão / Procurou um caminho e seguiu, / Já descrente de um dia feliz / Quem chorou, chorou / E tanto que seu pranto já secou / Quem depois voltou / Ao amor, ao sorriso e à flor / Então tudo encontrou / E a própria dor / Revelou o caminho do amor / E a tristeza acabou.
* sábio mestre Tom!
quinta-feira, 26 de novembro de 2009
sem engano*
* "quando a gente conversa, contando casos, besteiras / tanta coisa em comum / deixando escapar segredos (...)"
** pro Diego, jornalista desde ontem, que ama essa música.
terça-feira, 24 de novembro de 2009
segunda-feira, 23 de novembro de 2009
muito lindíssima

(Blues do Iniciante, Cazuza)
quinta-feira, 19 de novembro de 2009
alfabeto de urgências
* pra mim, pros meus, pros seus. sempre.
quarta-feira, 18 de novembro de 2009
as dores que não curam em botecos
"Um tanto enrugada, altamente vulnerável e definitivamente mortal, examinei essas perdas. Essas perdas de uma vida inteira. Essas perdas necessárias. As perdas que enfrentamos quando nos vemos face a face com o fato do qual não podemos fugir...
que nossa mãe vai nos deixar, e que nós vamos deixá-la;
que o amor da nossa mãe jamais será só nosso;
que as dores que nos machucam nem sempre desaparecem com um beijo;
que estamos no mundo essencialmente por nossa conta;
que teremos de aceitar - nos outros e em nós mesmos - um misto de amor e ódio, de bem e de mal;
que, por mais sábia, bela e encantadora que seja, nenhuma garota pode se casar com o pai quandro crescer;
que nossas opções são limitadas pela anatomia e pela culpa;
que nosso status neste planeta é implacavelmente efêmero;
e que somos completamente incapazes de oferecer a nós mesmos ou aos que amamos qualquer forma de proteção - proteção contra o perigo e a dor, contra as marcas do tempo, contra a velhice, contra a morte, proteção contra nossas perdas necessárias."
* Um brinde aos heróis que concluem o trecho sem engasgar em nenhum tópico!
** Quando leio teoria, sempre volto à ficção, e vice-versa. Um dos melhores TRATADOS sobre a perda está no conto Babilônia Revisitada, de Scott Fitzgerald. Escrita em 1931, a história narra uma sucessão de perdas devastadoras porque irremediáveis, inadiáveis porque inexoráveis, definitivas porque contingenciais. "Tudo acabou, inclusive eu" - diz o protagonista Charles Wales, alcóolatra regenerado, abrindo a narrativa. Para conferir, 25 Contos Escolhidos, da Companhia das Letras, com (excelente) tradução de Ruy Castro.
*** Drops do melhor de Fitzgerald:
"Já se fartara do afã e da inventividade de Montmartre. Constatou que, ali, a oferta de vício e extravagância se dava numa escala tremendamente ingênua, e só então se deu conta do significado da palavra 'dissipar' ― dissipar no ar; transformar qualquer coisa em nada. Às altas horas da madrugada, cada deslocamento de um lugar para outro era um gigantesco salto humano, e pagava-se um preço cada vez mais alto pelo privilégio de movimentos mais e mais lentos.
Ele se lembrou das notas de mil francos dadas a orquestras para tocarem uma única canção, das notas de quinhentos francos atiradas a porteiros por terem chamado um simples táxi. Mas esse dinheiro não tinha sido em vão. Mesmo as quantias mais loucamente desperdiçadas haviam sido dadas como oferenda ao destino…"
terça-feira, 17 de novembro de 2009
outra dele*

Tudo é tão vago como se não fosse nada."
(Caio Fernando Abreu, em Os dragões não conhecem o paraíso)
* à mainha, que me apresentou caio f.
segunda-feira, 16 de novembro de 2009
sexta-feira, 13 de novembro de 2009
a (im) potência dos círculos

Há dez anos não vestia as sapatilhas, há dez anos evitava aquele retorno antes tão incerto, há dez anos o mundo prometia aventuras dignas da alta literatura. Se estava ali agora, dividindo a barra com uma turma de crianças espantadas com os respingos de tristeza, é porque tudo se desmanchara mais uma vez. Antevia, porém, e sem dificuldade, a falência do mergulho – jamais teria dezoito anos novamente. Já desejava pouco demais para realizar tamanho avanço. Desejava cada vez menos: gestos vagos, inocências perdidas, perdões pelo excesso, construções atrasadas, mais tempo.
Olhou-se de perfil e contabilizou as destruições dos últimos meses; provavelmente jamais se manteria de pé sobre as sapatilhas novamente. O furacão arrancara todas as árvores: profissão, canções, parentes, amizades, rotina, projetos, parte da casa. Bastava um tantinho de equilíbrio para agilizar a retomada – mas onde? Quem lhe estenderia as mãos se continuava precisando estender aos outros? Sentiu medo dos abrigos hipotéticos.
Pensou nas novidades que povoavam o mundo descascado de então, tantas, diversas, cheias de promessas e alívios. Cuidaria bem da gata ainda sem nome? Ainda não sabia, como não sabia um sem fim de dados importantes, e urgentes, e inadiáveis. Conseguiria de fato? Sim, conseguiria, conseguiriam todos – assim era sempre. Limpou as lágrimas da alma, apertou o estômago dolorido em queimaduras de gastrite; encarou uma a uma as manchas roxas das pernas. Contara dezoito na semana anterior.
Equilibrou-se apenas na perna esquerda, recebeu um sorriso suave de criança. Retribuiu, rodopiou, abandonou o pior. Ainda havia amor, e ainda havia esperança, e ainda havia expectativa. Além do mais, não pode existir receio no coração das bailarinas. Agradeceu às sapatilhas, à vida, a ele. Não faltavam motivos.
quinta-feira, 12 de novembro de 2009
coração + agir = coragem*
Meio Silêncio
(Caio Fernando Abreu)
Águas de vidro à luz doentia da madrugada. Um vidro verde e fino refletindo longe o tremor das luzes da cidade. Aproxima lento o próprio dedo da ponta acesa do cigarro até senti-lo retrair-se num afastamento involuntário. O rosto do outro também parece feito de vidro. Um vidro ainda mais frágil que o da madrugada. Tem a impressão que se sair caminhando o ar irá quebrar-se em ruídos e estilhaços. A lua está tão bonita que dói por dentro, fala. Depois retrai-se como o dedo não queimado. Sempre o medo de chegar perto demais, de não poder voltar atrás, pensa, e solta devagar a fumaça pelas narinas.
"Quer ouvir música? meus dedos avançam até o rádio. Um gesto e três palavras para encher o silêncio. Que de tão repleto não cabe em si mesmo. Mas ele diz não. Sua resposta me enche de uma brusca vergonha. Como se tivesse descido mais fundo do que eu, dispensando as facilidades que também são fuga. A luz da lua bate nas pedras, elas brilham feito mil luas brancas, mil luas ásperas, mil luas à beira de um céu-rio sem estrelas. Está tudo quieto - há quanto tempo? - e meus ouvidos já não descosturam do silêncio o rumor dos carros passando distantes na estrada."
Olham-se, mas não se vêem. A escuridão não é uma parede, mas o silêncio os imobiliza na busca da palavra maior. Os dois fumam. As pontas acesas desvendam o escuro, e por instantes colocam um brilho avermelhado nas pupilas de ambos.
Perguntou se eu queria ouvir música. Não, eu disse sem pensar. Então ele calou como se tivesse ficado ofendido por eu recusar alguma coisa sua. Desconhecidos: como isso é, a um só tempo, terrivelmente bom e terrivelmente assustador. Pensar que eu estava só, no bar, esperando nem sei que, nem sei sequer se esperando: de repente os olhos me buscando no balcão em frente. Verdes. No primeiro momento foi a única coisa que percebi. Verdes, os olhos, atrás da fumaça, no meio das gentes, na frente do espelho. E o espelho refletindo o meu espanto. Depois vi os cabelos, a boca, os ombros. Mas era nos olhos, só nos olhos, que se fixava aquele mudo apelo, aquele grito. Nem sei. Aquela clara maldição. Saí, saiu. Não dissemos nada. Eu só tenho esperas. Ele traz a tranqüilidade de mais nada esperar.
"Um menino. Aquele ar espantado. Um pouco trêmulo. Cigarro atrás de cigarro. Tenho medo de tocá-lo. De quebrá-lo."
Eu disse: a lua está tão bonita que dói por dentro. Ele não entendeu. É tudo tão bonito que me dói e me pesa. Fico pensando que nunca mais vai se repetir, é só uma vez, a única, e vai me magoar sempre. Não sei, não quero pensar. Neste espaço branco de madrugada e lua cheia, preciso falar, e mais do que falar, preciso dizer. Mas as palavras não dizem tudo, não dizem nada. O momento me esmaga por dentro. O espanto esbarra em paredes pedindo exteriorização.
Você vê? as pedras parecem luas também. Ou estrelas, ele diz. Chão de estrelas. Vamos pisar nos astros distraídos? Ele ri. Nesse segundo cheio de riso alguma coisa se adensa. Nossos pés pisam em pedras. Mas por cima dos sapatos, sinto que são frias e duras, e sei que seu significado está em nós, não nelas. Uma vontade que a manhã não venha nunca. Vai voltar a grande busca. As noites vazias. Amargura de estar esperando. Repetir mil vezes: não quero esperar. E a certeza de que esse não querer já traz implícitas as longas caminhadas, o olhar devassando os bares, a náusea, os olhares alheios, a procura, a procura: seus ombros largos, um jeito de quem pisa mesmo em luas, não em pedras.
As sombras se projetam alongadas na praia deserta. Rumor de carros e faróis que devassam a noite sem achar. Pára de súbito, o corpo ferido por um sentimento indefinível. Precisa falar, precisa dizer.
Afinal, não foi para enfiar pérolas que você me trouxe aqui: eu digo. Ele está a meu lado. Então me olha sério, por um instante abalado, depois ri e diz: desista. Positivamente o cinismo não fica bem em você. E se com essa citação só quer mostrar que já leu Sartre, eu também já li. Por que feri? Por que feriu? Por que estamos dizendo coisas que não sentimos nem queremos?
"Um menino assustado querendo mascarar o medo com a agressividade. Um menino. Curvo-me para ele. Tão esguio que meus braços o rodeariam por completo. Por um instante ele ficaria inteiro preso dentro dos meus limites."
O rosto dele próximo do meu. Mais adivinho do que vejo o verde dos olhos deslizando pelas órbitas. A sua mão toca no meu ombro, sobe pelo pescoço, me alcança a face, brinca com a orelha, alcança os cabelos. O seu corpo cola-se ao meu. A sua boca vem baixando devagar, vencendo barreiras, colando-se à minha, de leve, tão de leve que receio um movimento, um suspiro, um gesto, mesmo um pensamento. Estou em branco como a noite. Ele me abraça. Ele está perto.
Ergue o braço lentamente, afunda as mãos nos cabelos de outro. E de súbito um vento mais frio os faz encolherem-se juntos, unidos no mesmo abraço, na mesma espera desfeita, no mesmo medo. Na mesma margem.
* post dedicado às felizes proximidades.